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Fim do ciclo

Nos últimos dias, MTV Brasil faz autodeboche e sofre com abandono

Adriana Spaca/NTV

Funcionário da MTV Brasil em sala de controle no momento em que emissora exibe comercial da 'nova' MTV - Adriana Spaca/NTV

Funcionário da MTV Brasil em sala de controle no momento em que emissora exibe comercial da 'nova' MTV

REDAÇÃO

Publicado em 20/9/2013 - 19h07
Atualizado em 22/9/2013 - 8h32

Referência para milhões de pessoas que cresceram nos anos 1990 e 2000, a MTV Brasil vive um final quase tão irreverente quanto sua trajetória. O prédio que ocupa no Sumaré, em São Paulo, está parcialmente abandonado. Dos nove andares, só três funcionam. Mas as pessoas que lá ainda trabalham não esmorecem: produzem um programa que debocha da própria decadência

A MTV Brasil sai do ar no próximo dia 30, encerrando uma história de polêmicas, sucessos, fracassos e crises _crises de identidade (emissora musical ou emissora jovem?) e financeira, como a que a derrotou.

No dia seguinte, em 1° de outubro, a MTV renasce sob o comando da Viacom, empresa americana que detém a marca.

NTV acompanhou os últimos dias da MTV Brasil. O cenário é um tanto desolador. Dos nove andares do prédio que um dia já foi sede da TV Tupi, em São Paulo, apenas três estão ocupados.

O espaço reservado para a recepção de artistas e convidados virou um grande quarto escuro. Quando se acende a luz, ilumina-se o abandono. Mesas cheias de bugigangas, revistas, apetrechos. Um lugar vazio, sem gente.

Dos 150 funcionários que operavam a MTV em maio, hoje só há 70. Alguns profissionais chegam a fazer trabalho antes executado por uma equipe. Maquiadores desempenham a função de cabeleireiros.

"Nunca se trabalhou tanto. Antes eram 14 pessoas que trabalhavam no setor de exibição. Hoje são cinco", diz Jefferson Martins, operador de exibição da emissora, onde atua há 18 anos.

Um por todos

Vinícius Lepore toca hoje, sozinho, a programação musical. Antes da debandada, ele era membro de uma equipe de cinco profissionais. Ficou responsável por montar a grade de videoclipes veiculados em cinco programas. Novos videoclipes continuam chegando, mas a prioridade no apocalipse é o acervo da MTV.

A produção dos programas da MTV é feita por uma dezena de funcionários, que trabalham em um esquema colaborativo, um ajudando ao outro. Júlio Piconi, diretor de programas, faz sozinho o My MTV, que vem recebendo ex-VJs para contarem suas experiências na emissora.

Além do My MTV, a emissora ainda produz o Furo MTV e O Último Programa do Mundo, que, coincidentemente, retrata uma emissora em seus últimos dias. O cenário, inclusive, é o da MTV devastada. Todos os episódios estão gravados, menos um, o do encerramento.

O Furo MTV costuma ser gravado, mas também será ao vivo no dia 30.

Autodeboche

Apesar do fim que se aproxima, o clima não é de tristeza. Nas gravações dos humorísticos, os funcionários se divertem, tiram sarro da TV e discutem o lado obscuro do canal.

O trabalho de Daniel Furlan, apresentador do O Último Programa do Mundo, só funciona pela liberdade que o canal oferece. Qual emissora permitiria que funcionários escrachassem o próprio local de trabalho na frente das câmeras? 

O Último Programa do Mundo é o retrato do enlace da MTV Brasil.

O diretor de programação, Zico Goes, na emissora há 20 anos, reforça a dimensão da atração apresentada por Furlan: "O Último Programa do Mundo é a essência da MTV Brasil: um deboche de si próprio. Mesmo que não tivéssemos no fim da TV, eu colocaria esse programa no ar".

Por que acabou?

O que levou ao fim da MTV? Números fracos do Ibope contribuíram. Goes não esconde que a maquininha que registra audiência norteou os rumos da emissora. 

"Em 2009 apostamos na banda Restart, foi um risco que gerou um alto ibope", aponta. "Risco porque nos rendemos além da conta ao movimento criado pela banda. Quando, em 2011, voltamos a ser conceitual, acreditando nos trabalhos de Emicida e Criolo, o ibope caiu", lembra.

Nos nove primeiros anos, a MTV Brasil operou no vermelho. Descobriu-se que música não dá audiência. Apostou-se então em programas variados, de comportamento e humor, por exemplo. Os resultados vieram e, na virada do século, a MTV crescia. Mas a internet matou o videoclipe na TV, e a MTV definhou.

A emissora caminha para o fim. Contudo, alguém tem que manter o sinal no ar e apagar a última luz.

Três meses atrás foi o começo do fim da MTV Brasil. Goes optou por produzir alguns programas ao invés de reprisar antigas produções _foram 109 programas diferentes em 23 anos.

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